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Conhecido por pregar que as mulheres são as principais adeptas das superstições malignas, o "Malleus Maleficarum" foi um livro lançado em 1487 pelo monge Heinrich Kramer, o qual viria à se tornar uma espécie de manual contra a bruxaria em plena Idade Média, sendo responsável pelo julgamento de milhares de vidas inocentes.

O Surgimento

Em meados dos Anos 800 d.C. havia a crença popular sobre a existência de bruxas que através de artifícios sobrenaturais, eram capazes de provocar discórdia, doenças e morte. Por sua vez, a Igreja naquela época já não aceitava a existência de bruxas e ainda baseado em preconceitos diziam que isso era sinônimo de malefícios.

O tempo foi passando, e na segunda metade do Século 10, já havia penalidades severas para quem fizesse uso de artes mágicas.

Em 1326, a Igreja autoriza a Inquisição a investigar os casos de bruxaria.

Em 1430, teólogos cristãos começam a escrever livros que teoricamente provariam a existência de bruxas.

Em uma sociedade na qual a religiosidade, política, sexualidade e artes estavam interligadas e sob o domínio da Igreja, transgredir as normas de conduta em apenas um desses campos, acarretaria, por consequência, numa transgressão generalizada e direta sobre o poder do clero. Dessa forma, sob o papado de Inocêncio VIII, o Malleus Maleficarum nasceu da necessidade que a Igreja Católica tinha de organizar e legitimar suas práticas, principalmente quando relacionadas à Santa Inquisição, que já atuava desde o final do Século 12.

Até aquele momento, não havia uma referência oficial que abordasse a questão da bruxaria, pois fazia-se necessário um documento escrito, aprovado pelo corpo eclesiástico, que tivesse valor legal e determinasse com maior precisão possível, as práticas de feitiçaria e suas respectivas punições.

Então surge Heinrich Kramer e James Sprenger, através de uma bula de Inocêncio VIII, foram nomeados inquisidores para que investigassem as práticas de bruxaria nas províncias do norte da Alemanha e incumbidos de produzir a obra que institucionaliza-se e legitima-se a ação da Igreja, sendo assim, por aproximadamente 2 anos, encarregaram-se da produção do espesso trabalho de mais de 400 páginas.

Malleus Malleficarum

Esta obra foi amplamente utilizada pelos inquisidores durante 250 anos, e servia para identificar bruxas, e os malefícios causados por elas, além dos procedimentos legais para acusá-las e condená-las.

O livro divide-se em três partes distintas, sendo que cada parte subdivide-se em capítulos chamados de "Questões".

  • 1ª Parte - contém 18 questões, ensina a reconhecer bruxas em seus múltiplos disfarces e atitudes, nesta parte é possível conferir aspectos malignos sendo diretamente correlacionados com as bruxas.
  • 2ª Parte - expõe os tipos de malefícios, classificando-os e explicando-os detalhadamente, e os métodos para desfazê-los, outro fator desta parte é que ela abrange apenas duas questões, mas a primeira está subdividida em 16 capítulos e a segunda em 8; Aqui encontram-se instruções para reconhecer e ao mesmo tempo eliminar a bruxaria, em todos os momentos do cotidiano das pessoas, em qualquer fato ocorrido: brigas; fenômenos da natureza; impotência sexual, entre outros.
  • 3ª Parte - contém uma introdução geral e 35 questões subdivididas, condiciona as formalidades para agir legalmente contra as bruxas, demonstrando como inquiri-las e condená-las, tanto nos tribunais civis, como eclesiásticos, tudo detalhado para não ser esquecido nenhum detalhe na hora de julgar alguma acusada, muito menos deixar de punir rigorosamente de acordo com o que regia o maldito Malleus Maleficarum.

As teses centrais do Malleus Maleficarum fundamentaram-se na ideia de que o demônio sob a permissão de Deus, procura fazer o máximo de mal aos homens para apropriar-se de suas almas. Este mal seria feito prioritariamente através do corpo, único canal em que o demônio poderia teoricamente predominar. A influência demoníaca é feita através do controle da sexualidade, e por ela, o demônio se apropria primeiramente do corpo e depois da alma do homem. Segundo o livro, as mulheres são o receptáculo para esta ação demoníaca.

Ainda, a primeira e mais importante característica descrita no livro, responsável por todo o poder das feiticeiras, é copular com o demônio. Portanto, Satã é o "senhor do prazer". Dessa forma, uma vez obtida a relação com o demônio, as feiticeiras são capazes de desencadear todos os males, especialmente impotência masculina, impossibilidade de livrar-se de paixões desordenadas, oferendas de crianças à Satã, abortos, destruição das colheitas, doenças nos animais, entre outros.

As "Razões" de Kramer

De acordo com Diarmaid MacCulloch no livro "Reformation: Europe’s House Divided", o Malleus Malleficarum foi escrito como uma forma de vingança e auto-justificação por Kramer ter sido impedido de levar adiante um dos primeiros processos contra bruxas na região do Tirol (Áustria). Kramer foi expulso da cidade de Innsbruck (Áustria) e, após apelar ao papa Inocêncio VIII, este lhe atendeu com uma bula em 1484, a Summis Desiderantes Affectibus, que lhe garantia jurisdição para atuar na Alemanha.

Antes da publicação do livro, a bruxaria era considerada um crime menor, portanto, após a publicação, autoridades católicas e protestantes passaram a usá-lo no julgamento e condenação de suspeitas de bruxaria, tornando mais brutal essa perseguição medieval.

O livro não era usado por inquisidores, mas sim por tribunais seculares, em especial durante o Renascimento. Uma coisa importante à se saber é que quem queimava os acusados de bruxaria era o Estado, e não o Clero.

A verdade é que esse livro nasceu porque Kraemer era um melindroso, um futricado, alguém que não aceitava bem críticas, não é atoa que anos antes ele havia empreendido esforços para processar mulheres suspeitas de bruxaria, e mesmo encontrando povoados repletos de feiticeiras, as autoridades locais mostraram-se relutantes em fazer qualquer coisa contra elas. Kraemer tentava conectar “desvios sexuais” femininos com a bruxaria, mas sem sucesso algum, muitos espectadores do clero chegaram a afirmar que ele reivindicava algo que não poderia provar, e seus processos foram arruinados. Ele insistiu em tentar reavivar os processos, mas só obteve negativas. Até que, finalmente, recebeu uma ríspida ordem episcopal para sair da cidade, ou ficar e sofrer a ira das famílias cujas esposas e filhas ele tinha ofendido.

Como um religioso culto, maduro e equilibrado, ele escreveu o livro como forma sistemática e abrangente ao descrever as bruxas, seu caráter e comportamento, e ainda expor um resumo das medidas legais e espirituais a usar contra elas. Um dos pontos mais marcantes desta obra é mostrar a bruxaria como algo exclusivamente feminino, os homens que trabalham com as formas populares de magia são chamados de superstitiosi ou de magi, ao invés de bruxos malefici. Ele alegava que os magos não eram bruxos, eles só fazem uso de poderes naturais ocultos, ou são pessoas iludidas pensando que agem sob comando ou influência do demônio, embora claramente eles, ao contrário das bruxas, jamais poderão estar ligados ao diabo, pois isto só ocorre por meio de um pacto explícito selado com a relação sexual.

Nenhum tratado anterior foi tão enfático em mostrar o sexo feminino como instrumento satânico quanto este. Não é exagero afirmar que a obra "Malleus Maleficarum" é o documento responsável pela demonização da mulher, o fato dele ser tão conhecido, é porque trata-se do mais perverso e cruel manual de ódio e tortura contra as mulheres.

Observações

  • Heinrich Kramer pode ser facilmente considerado um dos maiores vilões da história da humanidade.
  • Apenas nos Estados Papais, onde a Igreja era autoridade secular, a Inquisição tinha poder para executar os condenados.

Fontes de Pesquisa